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30 de mai. de 2013

SABEDORIA ORIENTAL

A intensa busca pela paz interior é refletida de maneira singular na cultura japonesa. No Sumie, técnica tradicional de pintura, a arte é um convite à meditação e ao desenvolvimento espiritual.
O Sumie ou Sumi-ê é a técnica de pintura em preto-e-branco, característica da arte oriental. Desenvolvida no interior dos mosteiros chineses durante a Dinastia Sung (960-1274), o Sumie chegou ao Japão no século 14 por meio dos monges zen-budistas. As primeiras obras abordavam temas ligados ao Budismo, como o círculo, símbolo do vazio interior, e à natureza, como rochas e água. No século 15, novos elementos passaram a ser explorados como flores, pássaros e paisagens.
Contudo, o Sumie está longe de ser uma arte marcada pelo realismo. Descrever um objeto, registrando cada detalhe e criando formas precisas não são preocupações do artista. "A filosofia da pintura Sumie é passar para o papel o espírito de um objeto, não existindo pretensão para criar uma obra realista. Cada pincelada deve estar cheia de exergia (ki - energia vital que existe em todas as coisas). Cada traço tem que mostrar sua vitalidade e vida. Um ponto não representa uma águia ou um traço o Monte Fuji. O ponto é um pássaro e o traço é a montanha", explica Jordan Augusto, em um trecho do seu livro - "Sumie - Um Caminho para o Zen".
Um bom conhecedor da arte nipônica ao analisar uma pintura Sumie logo lembrará de um outro tipo de manifestação artística: O Shodô. E isso é totalmente compreensível uma vez que as raízes do Sumie estão fincadas na caligrafia oriental. Os materiais para realizar a pintura, por exemplo, são os mesmo da escrita: fude (pincel), papel (o kami ou o washi), sumi (tinta) e suzuri (recipiente para preparar a tinta). "A tinta não é exatamente tinta, mas uma fórmula de fuligem de pinheiro queimado e carvão combinado com cola e cânfora, que é então moldade em um bastão (suzuri). Este é imerso em água e mexido em forma de oito ou movimento circular, sempre na mesma direção, até formar uma pasta preta, por cerca de 25 minutos", detalha Jordan.
Assim como o Shodô, o Sumie está longe de ser apenas uma expressão artística. Trata-se de um momento de reflexão e, ao mesmo tempo, de manifestação da percepção de cada artísta. A pintura Sumie envolve uma série de rituais que podem ser observados em todas as fases do trabalho. O primeiro passo é a preparação do material. Ao fazer os movimentos necessários para a formação da tinta, o artista deve simultaneamente preparar a mente para a realização do trabalho. Em seguida, o pincel, já umedecido na tinta, é segurado entre o polegar, o indicador e o dedo médio, de preferência, no centro do cabo e erguido perpendicularmente ao papel, formando um ângulo de 90°.
As pinceladas devem ser rápidas e precisas, mostrando energia, força e segurança. Da mesma forma que ocorre no Shodô, no Sumie não são permitidas correções. De acordo com Jordan, "um traço deve ser encarado como único, se existir algum erro ele está "morto" e, portanto, toda a obra perdida". Os dedos devem ser mantidos imóveis, apenas o braço pode se movimentar, suspenso no ar, sem auxílio de qualquer tipo de apoio. Durante a pintura, não há tempo para reflexão; o artista tem que se espontâneo. No entanto, para isso, é importante que o praticante conheça perfeitamente o objeto ao qual dará vida. Nada que um criterioso processo de observação não resolva.

O Segredo do Sumie
O sucesso da pintura Sumie não depende apenas do conhecimento e da experiência do artista. A escolha dos materiais certos é imprescindível para que a obra alcance o resultado esperado.
Confeccionados com cabo de bambu, os pincéis para a prática do Sumie podem ser encontrados em diferentes tamanhos e modelos e são divididos em três categorias: duro, para desenho; macio, para colorir; e uma combinação dos dois. As cerdas são comumente de pêlos de animais como ovelha, lobo, veado, texugo e até de crina de cavalo.
Apesar de existir uma tendência de colocar cores em algumas partes da pintura, o Sumie é marcado pela monocromia. Com o pincel em mãos, o desafio do artista é compor uma bela obra, explorando as tonalidades da tinta, geralmente, da cor preta. "È mais importante que um pincel seja capaz de fazer linhas com nuances diferentes. Ou seja, a cabeça do pincel deve produzir manchas leves e pesadas, assim como meios-tons", explica Jordan Augusto.
Já o papel, produzido manualmente pelos orientais, pode ser feito a partir das fibras do arroz ou da polpa do bambu. O Xuan, papel branco, macio e absorvente, é o mais usado no Sumie. "Quando o artista termina sua obra, as outras ferramentas - tinta, pincéis e pedra de tinta - são postas de lados e os observadores contemplam apenas as imagens capturadas no papel. Assim, pode-se afirmar que o papel é o material mais importante", finaliza Jordan.

As quatro estações
Não importa a época, o lugar ou o estilo: a natureza é fonte de inspiração para todos os tipos de artistas. Isso ocorre também entre os praticantes da pintura Sumie. Os quatro temas clássicos são: orquídea, bambu, flor de pessegueiro e crisântemo, elementos que, de acordo com o livro "Sumie - Um Caminho para o Zen", de Jordan Augusto, remetem às quatro estações do ano:
A orquídea, símbolo da beleza, da graça e das virtudes femininas, representa a primavera. É considerada a mãe da pintura Sumie.
O bambu, um dos temas mais explorados no Oriente, representa o verão. Símbolo da simplicidade e da humildade da vida, do vigor e das virtudes masculinas. É o pai da pintura Sumie.
O pessegueiro representa o outono e é o símbolo da tolerância, da esperança, da renovação e da continuidade da vida.
O crisântemo representa o inverno e é o símbolo da perseverança, da resignação, da lealdade e da modéstia.

O Mestre
Por volta do século 15, graças ao surgimento de grandes artistas, como o pintor japonês Sesshu, o Sumie se firmou como arte. Foi no templo Shokokuji, em Kyoto, que Sesshu adquiriu os primeiros conhecimentos, mais tarde aperfeiçoados, na China, onde teve a oportunidade de estudar diferentes correntes. Sesshu desenvolveu uma linguagem própria, adotando a técnica conhecida como Shumpo, em que linhas grossas e exageradas eram compostas ao lado de traços finos e delicados, proporcionando efeito tridimensional. O artista morreu em 1506.
Onde aprender:

- Aliança Cultural Brasil - Japão / tel:. (11)3209-6630 / www.acbj.com.br

Fontes:

- Aliança Cultural Brasil - Japão / www.acbj.com.br
- Japan Foundation São Paulo / www.fjsp.org.br
- Revista Made in Japan / www.madeinjapan. uol. com.br
- Sociedade Brasileira de Bugei/www.bugei.com.br
- "Sumie - Um Caminho para o Zen" Jordan Augusto - Editora Kanji.

(Revista Ideogramas na Decoração - ano 1 nº 1 - Ed. On Line)


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